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Prova do teorema de Euclides usando topologia

Oi! Esse é um texto “extra”, feito pra ser uma espécie de sucessor espiritual do meu outro texto “Sobre primos em algumas progressões aritméticas”, já que vamos falar denovo sobre números primos e progressões aritméticas. Mas hoje, a ideia é falar dessa prova “topológica” da infinitude dos números primos, escrita por Furstenberg no seu artigo On the infinitude of Primes. Já que o artigo do Furstenberg não tem nem 15 linhas e eu tenho uma prova chegando em poucos dias, eu vou tentar ser breve nesse texto. Então vamos lá.

Primeiramente, definindo algumas coisas:

A ideia dessa prova é primeiro definir uma topologia sobre \(\mathbb{Z}\) de modo que um subconjunto não-vazio \(B\) de \(\mathbb{Z}\) seja aberto quando para todo elemento \(b\) de \(B\) exista uma progressão aritmética \(a\mathbb{Z}+b\) para algum \(a \geq 1\) tal que \(a\mathbb{Z}+b \subset B\). Relembrando a definição de uma topologia, podemos verificar que essa estrutura é, de fato, uma topologia:

Nessa topologia que nós definimos sobre \(\mathbb{Z}\), todo aberto não-vazio de \(\mathbb{Z}\) é infinito, pois todo subconjunto não-vazio de \(\mathbb{Z}\) contém uma progressão aritmética. Além disso, qualquer progressão aritmética é tanto aberta quanto fechada. Pra mostrar que é aberta, podemos ver imediatamente que para todo \(an+b\) em \(a\mathbb{Z}+b\), temos que \(an+a\mathbb{Z}+b = a\mathbb{Z} + b\). Para mostrar que é fechada, podemos mostrar que seu complementar em \(\mathbb{Z}\) é aberto. Seu complementar é a união finita de progressões aritméticas \(a\mathbb{Z}+b'\), onde \(0 \leq b' \leq a-1\) e \(a \not\equiv b' \mod a\). Já que cada \(a\mathbb{Z}+b'\) é aberto, a união de \(a-1\) progressões aritméticas desse tipo também é aberta.

Agora que nós definimos totalmente nossa topologia sobre \(\mathbb{Z}\), podemos rapidamente provar o teorema de Euclides. Seja a união \(\bigcup p\mathbb{Z}\) onde p é um número primo. Já que todo inteiro exceto \(-1\) e \(1\) tem pelo menos um fator primo, temos que \(\bigcup p\mathbb{Z} = \mathbb{Z} \setminus \{-1,1\}\). Já que esse subconjunto \(\{-1,1\}\) é não-vazio e finito, ele não é aberto, logo, seu complementar em \(\mathbb{Z}\) não é fechado. Mas todo \(p\mathbb{Z}\) é fechado, e uma união finita de fechados é um fechado, então \(\bigcup p\mathbb{Z}\) não pode ser uma união finita, portanto, os primos são infinitos.

Para fechar, só de curiosidade: essa topologia que definimos sobre \(\mathbb{Z}\), é conhecida como topologia profinita, e foi inclusive chamada de topologia de inteiros igualmente espaçados no livro Contraexemplos em Topologia de Steen. Essa topologia foi introduzida motivada pela Teoria de Galois infinita, e pode ser definida usando subgrupos finitamente indexados em qualquer grupo. Ademais, ela também tem bastante a ver com a topologia \(\mathcal{I}\)-ádica num anel comutativo, que pode ser definida usando coclasses de potências de um ideal \(\mathcal{I}\) nesse anel. Se você quiser, pode ler mais sobre isso aqui.

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Editado por último em 25 de abril de 2025